20 de out. de 2010

No mundo do tubarão

Mais uma vez o telefone tocou, e por coincidência, e tendo eu acabado de jantar, prontifiquei-me a atendê-lo. Na verdade não estava à espera de nenhuma chamada, e desde logo suspeitei tratar-se de mais uma abordagem comercial muito em uso no nosso tempo.

Do outro lado da linha uma voz feminina cumprimentou-me, indicando o respectivo nome. Pensei de imediato que mais uma vez teria de por fim à conversa, respondendo de forma civilizada que não estava interessado no produto, que não tinha infraestrutura para instalar o equipamento, oferecido na pechincha, ou que já estava servido com o bem proposto.

Nada disso, amavelmente a interlocutora apenas me queria fazer um inquérito comercial a mando da firma de cujo nome me esqueci de imediato.

Acedi afirmativamente, na esperança de um interrogatório curto e objectivo.

Começou a inquirente por perguntar dos meus hábitos comerciais, espaços onde me abasteço, espaços que conheço ou não, todos eles, no entanto, marcas satélites ou irmanadas de uma maior que reina alto neste país. Aí comecei a desconfiar!

Depois, tomando uma das referidas empresas para início de sondagem, propôs-me atribuir uma classificação de satisfação, utilizando apenas um dos parâmetros seguintes: Muito Bom, Bom, Mau, Muito Mau.

Não entendi o sentido da questão pois o meu grau de satisfação em relação à dita marca é mediano, pelo que pedi que me orientasse na resposta.

Voltou a inquirente à carga, insistindo que à quarta proposta eu teria que responder apenas com um e só um dos valores (parâmetros) propostos.

A mais outra minha contestação quanto aos critérios propostos, respondeu a inquirente que apenas uma das respostas propostas era admitida, de outra forma o inquérito terminava naquele ponto. Respondi-lhe que, assim sendo, o inquérito estava terminado, e desliguei civilizadamente a chamada.

Por momentos fiquei paralisado, mas logo de imediato senti-me cilindrado, e fiquei com a percepção do peso do cilindro que é a Besta EMPRESARIAL GLOBAL.

Pensei no anda montado atrás desta visão maximalista do mundo.

As grandes empresas que, para além de terem os preços mais baixos nos seus produtos, fazem, porém, dos seus consumidores paus mandados, para de testemunho colhido à força, fazerem crer que são em tudo os melhores do Mundo.

Internamente, nestas empresas, quem lá trabalha, vive o drama de ser ou excelente ou mau, sem meio termo, já que é esse o único critério válido de classificação que conhecem, muito embora se embandeirem em arco, proclamando que são MODERNAS, MUITO COMPETITIVAS e aptas à GLOBALIZAÇÂO.

Acreditamos que vivemos em Democracia, porém, a nossa vida comunitária vê-se cada vez mais espartilhada por valores criados à força e ao serviço da Brutalidade Empresarial Global? A qual nos submete continuamente e apenas nos dá a oportunidade de viver no fio da navalha entre o ser besta ou ser bestial. Sendo que a passagem dum estado ao outro é apenas questão de humores de quem tem o poder de decidir da sorte dos outros.

Conclusão: Diz-se que vivemos em Democracia. Pois sim! Porém no dia a dia a prática mostra que disfarçados os constrangimentos, vivemos submetidos a valores próprios dos totalitarismos de Partido Único, em que quem não é por “nós” é contra “nós”.

Carlos, 13/10/2010

Um comentário:

  1. A publicidade cada vez mais agressiva invade o nosso espaço de todas as maneiras e sob as mais insuspeitas máscaras.
    A investigação mostra que ninguém está a salvo ou isento da sua influência. Logo logo estará à nossa beira publicidade personalizada, organizada de acordo com os nossos hábitos de compras, os lugares que visitamos, os filmes que vemos seguindo, por exemplo o rasto do nosso cartão de crédito ou da página que visitámos na Internet.
    A propósito do assédio dos inqirentes a soldo das grandes empresas comerciais achei interessante este cartoon:
    http://www.cartoonstock.com/directory/s/survey.asp
    (Tradução possível: Há quanto tempo morreu? Que queixas tem sobre o tratamento aqui? Tem alguma sugestão a apresentar?)

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