18 de mai. de 2011

Crónica de outros quotidianos


O burro, que noutros tempos foi animal de carga e transporte e fiel companheiro em muitas lides do campo, quase desapareceu da paisagem algarvia.
Felizmente algumas organizações particulares têm vindo a redescobrir estes animais.
E para que servem hoje os burros?  
É "utópico continuar a dizer que as pessoas vão trabalhar a terra durante toda a vida com o burro". Por isso, houve que encontrar novas utilidades, como "a terapia no contacto com crianças, tanto as ditas normais como as portadoras de deficiências físicas e mentais, o que ajuda ao seu desenvolvimento, além de passeios turísticos". 
É essa aposta que, de resto, já se verifica no Algarve, onde duas alemãs e uma holandesa fundaram há seis meses o movimento «Orelhas sem Fronteiras».
Na sua propriedade localizada no concelho de Aljezur, onde possui quatro burros de raças misturadas, a alemã Sofia von Mentzinjen, de 42 anos, recebe duas vezes por semana um menino autista e lembra que "só pelo facto de ele estar sozinho e à vontade com um dos  animais, a passear num ambiente em que nada o perturba, já está a perder a agressividade que vinha manifestando na escola".


Mas a crónica de hoje fala-nos dum quotidiano em que as pessoas se faziam transportar de burro nas suas deslocações do campo para as localidades maiores.


Lição e Castigo

Um grupo de rapazes do qual fazia parte entretinha-se a soltar os burros deixados por senhoras que vinham do campo fazer as suas compras e deixavam os animais presos debaixo duma buganvília que existia à entrada da vila e fazia parte duma casa apalaçada.

Dávamos umas passeatas no dorso dos pacientes animais.

Um dia correu-me mal, e o burro, que abusivamente soltei e montei, deu vários coices, deixando-me estatelado no chão, parando em seguida.

Aí pensei que a burrice que fiz mereceu a lição e castigo dados pelo burro, ou burra, não sei, não tive tempo para verificar.

Dessa altura até agora distam setenta anos aproximadamente.
Rogério, Maio, 2011.