5 de jan. de 2011

Novas profissões II


A propósito de um pequeno relato trazido na aula anterior pelo senhor Rogério relativamente ao estado de desalento de uma empregada de caixa de supermercado

Referia o mesmo que a dita empregada, ao não ser atingida por um objecto pesado deixado cair da mesa de trabalho, desabafou ao cliente que melhor fora que o mesmo a atingisse e lhe provocasse dano físico, pois que, apesar da possível dor, seria essa a forma de não ter de ir trabalhar nos dias seguintes, isto partindo do princípio que lhe seria concedido um período de baixa médica.

Questiono: Estaremos, neste caso, perante uma atitude masoquista? Estaremos face ao desabafo de uma pessoa que e preguiçosa, recorrendo a todos os estratagemas para não trabalhar, ou estaremos perante uma pessoa à qual a dignidade física e humana foi brutalizada como resultado de um relacionamento laboral que cada vez mais impera nas empresas que, em vista do presumível efeito da crise instalada (ou instigada), fazem dos seus empregados o mal maior com que têm de lidar.

Estas pessoas vivem o drama quotidiano de terem apenas a certeza de ter de estar presentes n respectivo posto de trabalho à hora marcada para aquele dia. Depois é fazer tudo o que lhes mandam onde imperam os maus humores dos chefes que variam na proporção directa da mútua antipatia, da idade da pessoa, do tempo de serviço na casa, etc. Pelo que acontece de tudo, desde obrigarem as pessoas a trabalharem horas a fio sem direito a intervalo, fazê-las saltar de secção em secção a todas as horas, convidá-las amavelmente a trabalhar em part-time bem remunerado, na mira de as fazer existir do contrato efectivo, não pagam horas extra, não pagam dias de descanso, combinando dias de compensação que não são concedidos por “dificuldades operacionais”, etc.

Neste ambiente não é, pois de admirar que o ficar em casa de baixa, mesmo com dores e a auferir apenas uma parte do vencimento, seja uma atitude tentada para alívio temporário das pressões a que as pessoas são sujeitas, devido a ser prática corrente o desregramento das condições de trabalho e o desrespeito pela legislação existente.

Carlos (Dez. 2010)

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