5 de jan. de 2011

Inventores de palavras

Se mais não fizesse Mia Couto - e a verdade é que tem o condão de, não só, nos levar a saborear a recriação da língua em cada um dos seus escritos, mas também , nos conduz deliciados pelos caminhos do sonho e da poesia - ter-nos-ia pelo menos alertado para tantas escrevências desinventosas dos autores de língua portuguesa.

A. Lobo Antunes, por exemplo, em Sôbolos Rios Que Vão fala-nos de pombos "desbussolados"; ou então refere o herói tapando o bocal do telefone desorbitado de fúria.

O desafio aqui continua: partilhe connosco as escrevências desinventosas que encontre por aí em autores de língua portuguesa e também as palavras que cria na comunicação com os outros e que de tão óbvias facilmente se tornariam código comum.

E, para documentar a recriação /uso inovador das palavras, nada melhor que terminar este post com um belíssimo poema de Natália Correia.

ADVENTO

À meia-noite um assobio
de cristal o anunciava.
Lourinho de ovos em fio
o seu cabelo soltava

na mesa para que nas bocas
recém-nascidamente fosse
a Eternidade resolvida
em metáfora de doce.

Bilingue de céu e terra
num favo de luz impresso
era tão fácil de ler
que nele aprendi os versos.

Espirito amorado em flor
sem punhado de palhinhas
orvalhava era o licor
santo da sua mijinha.

Natal agora na alma
é infância a rapar frio.
Enjeita-a o destino. Ai,
que se partiu o menino


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