16 de mar. de 2010

O que fazemos por aqui - Desafio 1

Isto de uma pessoa se aposentar é estranho.
Levamos anos a construir o sonho do tempo livre, da disponibilidade total, do prazer de não cumprir um dever, simplesmente porque nenhum dever se colocará insistentemente no nosso caminho para ser cumprido... e de repente aí estão para nos surpreender :
  • As coisas que fomos adiando e que continuam adiadas
  • O tempo livre em que não temos afinal tanto tempo.
  • O prazer de cumprir um dever, sim, o prazer de cumprir um dever que procuramos e nos impomos
  • As pessoas que agora não contactamos tanto porque, coitadas! têm tanto que fazer que, julgamos, não têm disponibilidade para nós.
E aí surge o DESAFIO! Viva!!!! Já começava a desesperar olhando indecisa à minha volta sem saber em que actividade me envolver.
- Precisávamos de alguém para "dar" Português...
-Mas a minha especialidade não é Português! Aliás, ao longo da minha vida, só dei Português um ano - e foi há tanto tempo! Não precisam duma professora de Inglês? Não?! Meio-sorriso decepcionado! -Talvez Alemão?! Gosto tanto de ensinar Alemão! E a minha voz interior levanta-se e canta cheia de esperança.
-Não, Alemão também já tem professor!
Oh! A bruxuleante chama da esperança quase se apaga De repente, reacende-se.
- E não haverá um espaço de animação de TIC? - É preciso alfabetizar informaticamente, todos concordamos! Balde de gelo sobre o breve fogo!
- Já há Informática! Não quer experimentar fazer uma abordagem à nossa língua? Nada de muito formal!
O resto do desafio é esta experiência de aprender conversando e lendo em conjunto com um pequeno grupo.
Começámos com "Singularidades de uma rapariga loira" de Eça.
Inicialmente, a velha pele de professora ainda colada à nova tarefa, esperava pôr os participantes a desenvolver trabalho como na escola. Ingenuidades!!!
É necessário mudar de estratégia, não vês? Quem levou anos a cumprir um dever tem direito ao prazer!
Mudou-se um pouco o rumo: especulámos, adivinhámos, conversámos, tentámos encontrar um fim para a história, observámos e analisámos as personagens e as suas reacções, e finalmente lemos o texto.
E que bem que algumas pessoas lêem! Ficaríamos ali enlevados, não fosse tempo que, inexorável, nos coloca o autocarro à porta.
Há também quem escreva e generosamente nos ofereça uma carta de amor ou um poema.

Um comentário:

  1. Já agora, a propósito de Singularidades de uma rapariga loira, porque não ver o filme de Manoel de Oliveira?

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